Conflito de horários, desconhecimento
sobre a área escolhida e insatisfação com a estrutura estão entre os principais
responsáveis pela desistência.
Cursar o ensino médio e já sair com
uma formação profissional, ou concluir o ensino regular e entrar mais cedo no
mercado de trabalho por meio de um curso técnico subsequente são possibilidades
que empolgam menos jovens do que se poderia imaginar. No Brasil, a evasão geral
no ensino médio é de 10,3% – índice que cai para 6,7% no Paraná, de acordo com
dados do Censo Escolar de 2010. O Ministério da Educação e a Secretaria
Estadual de Educação (Seed) não divulgam dados específicos sobre o abandono nos
cursos técnicos, mas, segundo escolas e profissionais consultados, as taxas são
preocupantes. Uma amostra disso é que, em seu plano de metas, a Seed trata o
combate ao abandono no ensino técnico como prioridade.
Na Universidade Tecnológica
Federal do Paraná (UTFPR) a evasão nos cursos técnicos integrados ao ensino
médio passou de 13,66% em 2010 para 16,18% no ano passado. No Instituto Federal
do Paraná (IFPR) a evasão foi baixa em 2011: 2,09% dos estudantes abandonaram
os cursos integrados e subsequentes, o que representa 640 dos quase 30 mil
alunos. Mas esse quadro positivo é recente e resulta de um trabalho específico
para combater a desistência. Em 2009, o número foi 79% maior – 1.146 estudantes
largaram seus cursos. Em 2010, houve 1.768 desistências.
Artigo
Desafios
da formação técnica no Paraná
Ronaldo Casagrande, diretor do Centro Tecnológico da Universidade Positivo
(CTUP)
O apagão de mão de obra é um tema
recorrente quando o assunto é o crescimento do Brasil para os próximos anos.
Atualmente faltam profissionais qualificados em todas as áreas e em todos os
níveis. Porém, a maior escassez, especialmente no Paraná, não é por advogados,
administradores e outros bacharéis e sim por pessoas com habilidades técnicas
específicas. O mercado de trabalho tem um déficit muito grande desses
profissionais em diversas áreas, especialmente àquelas ligadas a infraestrutura
e produção, tais como petróleo e gás, construção civil, controle e processos
industriais, entre outras.
O mercado está remunerando muito bem
profissionais de nível técnico ligado a essas áreas. Mas por que então há falta
de pessoas com esse perfil? Pode-se discorrer aqui sobre várias causas que
levaram a essa escassez, mas gostaria de destacar especialmente duas.
Primeiramente não podemos ignorar que no Brasil houve historicamente um forte
preconceito com a formação profissional.
Desde suas origens, a formação
profissional foi destinada a classes sociais menos favorecidas e teve como
objetivo principal a resolução de problemas sociais. O próprio trabalho,
especialmente o manual e operacional, sempre sofreu preconceito em nosso país.
Vale lembrar que a palavra trabalho tem sua origem na palavra latina Tripalium,
instrumento de tortura utilizado com escravos. O preconceito em relação ao
trabalho operacional pode ser evidenciado, ainda nos dias de hoje, quando vemos
filhos de pessoas de classe média alta que trabalham por longos períodos nos
EUA como babás e garçons, mas que se recusam a realizar esse tipo de serviço no
Brasil.
Outro problema que temos no avanço da
formação técnica é em relação ao financiamento para estudo. Podemos, de forma
simplista, identificar dois grandes financiadores, sendo um o poder público e
outro, o privado, constituído especialmente pelo segmento empresarial
(representado pelo Sistema S) e também pelas próprias pessoas que buscam uma
formação. Especificamente nas últimas duas décadas, o poder público identificou
a necessidade de promover a formação de profissionais de nível técnico de
qualidade e desde então vem desenvolvendo programas para acelerar esse tipo de
formação.
O grande problema é que tanto o poder
público quanto o Sistema S não têm recursos suficientes para formar toda a
demanda necessária. Por outro lado, o público interessado em buscar uma
formação profissional normalmente não consegue arcar, também, com os custos de
uma boa formação profissional.
Hoje, a formação técnica é uma ótima
opção, tanto para a pessoa, que é bem remunerada, quanto para o país, que
necessita desse perfil de profissional para se desenvolver. Porém, para
resolver o problema da formação profissional deve haver, pelo menos, a
superação das barreiras aqui relacionadas: o problema cultural de preconceito
com a formação profissional e o financiamento ao estudante. Interatividade
Razões
Entre as principais razões para a desistência estão o desconhecimento e a
insatisfação com a estrutura dos cursos e a opção por dar continuidade aos
estudos no ensino superior. No entanto, a mais preocupante é a vulnerabilidade
social, já que muitos estudantes conciliam os estudos com o trabalho.
Há casos de alunos que abandonam o
curso por não conseguirem acompanhar as aulas ou por não terem gostado da
escolha. Existem estudantes, por exemplo, que optam por uma formação em
informática pensando em áreas de interesse, como a internet, mas esquecem que
há muita matemática como base para os estudos. “Por ter um processo seletivo
relativamente concorrido, os alunos que ingressam possuem uma base consistente
na formação geral, encontrando dificuldade nas áreas técnicas”, afirma Sonia
Ana Leszczynski, chefe do Departamento de Educação da UTFPR.
Análise
O professor Irineu Mario Colombo, reitor do IFPR, considera os índices de
evasão na instituição preocupantes, já que o governo federal faz um
investimento grande nesses cursos. Para reverter o quadro, o IFPR deve investir
R$ 5 milhões neste ano apenas em programas de assistência estudantil, para
apoiar a permanência dos alunos.
Colombo ainda faz uma ressalva em
relação aos índices elevados de evasão: a economia aquecida. “Para cursos
técnicos, a demanda aquecida não estimula a permanência”, afirma. Ele dá como
exemplo o mercado da construção civil em alta. Um aluno que cursa o técnico em
edificações pela manhã e é muito solicitado pelo mercado acaba abandonando o
curso para atender a essa demanda.
No TECPUC, centro de ensino técnico
ligado à PUCPR, um trabalho de avaliação da evasão ajudou os profissionais a
entenderem melhor as razões dos estudantes. “Um grande porcentual da evasão
ocorre pelo fato de os alunos serem os próprios pagantes do curso e não
conseguirem conciliar as atividades do dia a dia e os estudos”, explica Roger
Steppan, diretor do TECPUC.
Trampolim
Aulas foram meio de ingressar rapidamente no mercado de trabalho
Em 2010, Natalie Patrício, de 24
anos, decidiu estudar Produção de Áudio e Vídeo no IFPR, um dos novos cursos
ofertados na instituição após sua criação, em 2008. Em meio a atrasos na
formação por falta de professores, que ainda estavam sendo contratados, e
deficiências com equipamentos, a jovem quase desistiu do curso por falta de
dinheiro.
Morando sozinha em Curitiba, Natalie
aproveitava o vale-transporte que recebia no trabalho para ir até o instituto.
Quando parou de trabalhar, o orçamento ficou apertado. Com problemas de saúde,
ela perdeu muitas aulas e quase largou os estudos. “Aí apareceu a bolsa de
inclusão social e pude continuar”, conta. Em troca do dinheiro, R$ 200 mensais,
Natalie fez monitoria acadêmica, o que ainda a auxiliou nos estudos.
Hoje a jovem trabalha na área e sonha
em continuar os estudos em um curso superior de Medicina. “Escolhi o curso
técnico porque dura menos tempo e você sai um profissional formado.” Natalie
faz aulas no pré-vestibular gratuito Em Ação nos fins de semana e se prepara
para prestar vestibular no fim do ano. “A gente tem de comer, se vestir, então,
precisa trabalhar”, resume.
Informação
“Não sabia muito bem o que era o curso e caí de paraquedas”
O curso técnico em Mecânica, ofertado
de forma integrada ao ensino médio, pareceu uma boa oportunidade para o jovem
Igor Fabiano de Castro do Nascimento, 17 anos. Mesmo assim, ele desistiu da
formação profissional e voltou ao ensino médio regular. “Aconteceu o que
acontece com um monte de pessoas: não sabia muito bem o que era o curso e caí
de paraquedas. Saí porque não era o que eu queria”, conta.
De volta ao segundo ano do ensino
médio, o jovem estuda hoje no Colégio Estadual Rodolpho Zaninelli, na Cidade
Industrial de Curitiba, onde também cursou metade do ensino técnico. “Não tinha
estrutura e ficou mais viável largar o técnico e ficar no regular”, conta,
lembrando que entre as razões para a troca estavam a falta de laboratórios e de
professores.
Segundo Marilda Diório Menegazzo,
diretora do Departamento de Educação e Trabalho da Secretaria de Estado da
Educação (Seed), para diminuir a taxa de evasão, as escolas estão sendo
orientadas a explicar melhor para o aluno o que ele vai encontrar e estudar no
ensino técnico. Além disso, novos laboratórios estão sendo preparados.
Atualmente, a rede estadual tem 89.858 alunos no ensino médio
profissionalizante, que está presente em quase todas as cidades do Paraná.
Fonte : Site Todos pela Educação